Irlanda: a bola da vez


Alessandra Nascimento *

A Irlanda deve crescer, segundo a Comissão Europeia, pelo menos 3,6% em 2015. E isso acontece quando os países europeus ainda lutam para recuperar suas economias após os efeitos da crise econômica de 2008. O otimismo em relação aquele país é tanto que já lhe rendeu o apelido de tigre celta. Mas por que ela consegue crescer tanto? Qual foi o diferencial? Que medidas o país adotou para estar tão distanciado da sombra pessimista que ainda varre a Europa? Esse é o tema da coluna Logística Portuária dessa semana.
No fim dos anos 80 a situação era caótica – a divida publica atingia 120% do PIB, o desemprego elevado e havia baixo crescimento econômico impactando na vida das pessoas. Foi, então, enquanto o país sentia os efeitos da grave crise econômica, pondo em perigo a continuidade do estado de bem-estar social, que trabalhadores, empresários e governos decidiram, juntos, celebrar um acordo. Chamado de Program for National Recovery (1987 – 1990), mais conhecido como pacto social, ele tinha como objetivo principal chegar a uma formula para atender aos acordos salariais dos três anos subsequentes. O governo, a sua vez, se comprometia em reformar o sistema tributário.
Com a estabilidade fiscal e inflação sob controle e a entrada da Irlanda na Comunidade Europeia (1973), os irlandeses passam a vivenciar uma nova fase. O regime de livre comercio impactou no aumento das exportações de maior valor agregado (manufaturados). O país ainda recebeu fundos financeiros para reduzir as assimetrias internas. Os recursos foram aplicados em obras de infraestrutura o que contribuiu na melhora da competitividade. Com a reforma fiscal, o cambio competitivo e queda nas taxas de juros, ela se torna naturalmente mais atrativa a investimentos externos.
O país se adequou aos novos tempos: foram criadas políticas para atração de investimentos externos, o que gerou condições para promover avanços tecnológicos a partir de uma reorganização industrial. O saldo dessas mudanças se traduziu em altos índices de crescimento. Os efeitos foram contabilizados em números: de 1980 a 1990 a Irlanda cresceu a uma média de 3,2%, ao passo que a europeia no período foi de 2,4%. Já de 1990 a 2003 ela cresceu 7,7% contra 2% da comunidade europeia. Ela saiu de um desemprego de 18% para o pleno emprego, e a divida publica caiu para menos de 50%.
Antes da grande guinada, a Irlanda possuía condições favoráveis que a levariam ao êxito pós reformas: força de trabalho, possibilidade de retorno de emigrantes ao país, capacidade de energia para abastecer o setor industrial, transporte e um eficiente serviço público. Também foi favorável à Irlanda a adoção de um sistema financeiro eficiente. A língua inglesa nativa entre a população se mostrou um diferencial quando recebeu investimentos de origem norte-americanos.
Com a abertura econômica, o país se tornou uma das economias mais globalizadas do mundo. O setor estrangeiro participa em mais da metade do setor produtivo e financeiro. Com o crescimento recorde registrado nos anos 90, muitos irlandeses retornaram ao seu país. A segurança jurídica, a partir da seriedade de instituições e, a eficiente administração pública contribuíram ao processo, que contou com a existência de mão de obra jovem e com elevado nível educacional. A política de atração implementada pelo governo irlandês mostrou-se exitosa: baixa taxa de juros, isenções fiscais, liberdade para repatriação de lucros e o livre acesso aos demais países da Comunidade Europeia. Dentre os segmentos que se destacam, as indústrias com elevado nível tecnológico, com grande participação de capital estrangeiro, das áreas farmacêutica e processamento de dados. Cerca de 40% das exportações de produtos manufaturados são de alta tecnologia.





 (*) O texto acima foi publicado originalmente no site Gente & Mercado.

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