Os impactos da crise hídrica na economia nacional


Alessandra Nascimento*

Um assunto tem sido referência nos últimos meses: a chamada crise hídrica do Sudeste - sentida em maior escala pelo estado de São Paulo que hoje pode enfrentar um racionamento radical com dois dias de abastecimento de àgua por semana - caso a situação não se alivie nos reservatório com a vinda de chuvas para a região. O atual momento é delicado para a economia nacional uma vez que São Paulo é responsável por mais de 31,4% do PIB brasileiro, de acordo com dados de 2014. O mais alarmante é que um racionamento dessa natureza causará impacto também em seu seio produtivo. O Sudeste, como um todo, representa mais de 54% do PIB nacional e os estragos da crise hídrica vão acarretar aumentos nos preços dos alimentos, motivados pela escassez, o que insuflará ainda mais a inflação cuja previsão inicial para este ano seria de 7%. Vamos discutir sobre esse tema na edição dessa semana na Coluna Logística Portuária.
            Infelizmente, precisou a situação se tornar calamitosa no Sudeste para que autoridades e imprensa nacional acordassem para um problema que há muito tempo é sentido pelo Nordeste.  Para ter uma noção do quanto foi grave a seca vivida em nossa região em 2013, ela foi considerada a pior dos últimos 50 anos, segundo o relatório da Organização Meteorológica Mundial. As perdas entre 2010 e 2013 foram estimadas em R$ 20 bilhões. O drama maior foi à percepção, a olhos vistos, dos efeitos devastadores na lavoura e pecuária locais que ainda hoje não conseguiram se recuperar. Porém o nordestino ainda não conseguiu se livrar dos efeitos da seca. Nas cidades da região do São Francisco, por exemplo, a seca da nascente do rio já contabiliza problemas pela escassez da água na região agrícola e no consumo humano. Outra questão espinhosa diz respeito ao projeto de transposição num rio que sofre com assoreamento. O pesadelo do Nordestino, além de não ter fim, agora tira o sono do resto do país.
Sendo o Brasil um país com seu comércio exterior centrado boa parte no campo, os impactos além de imediatos são destruidores. Para maior conhecimento, o agronegócio participa com 23% do PIB brasileiro, e as suas exportações atingiram US$ 96,75 bilhões de dólares em 2014. Nesse contexto de problemas de abastecimento de água, impactando na irrigação de determinadas culturas, afetará a cadeia alimentícia nacional. Além da alta de preços, toda a cadeia vai ser impactada pelos aumentos de energia e água.
Mas o que de fato governantes e sociedade civil estão fazendo para contornar esse problema que hoje não se limita mais ao Nordeste? O que pode ser feito, por exemplo, nas grandes capitais brasileiras para minimizar o consumo e até mesmo a forma como dispomos de nosso lixo? Muitas cidades pelo mundo adotaram a coleta seletiva de lixo. Cidades alemãs, por exemplo, onde a preocupação com o meio ambiente está mais madura, não é comum lavar ruas e calçadas com mangueiras, muito menos os latões de lixo da forma como se é feita em muitas cidades brasileiras. A coleta seletiva faz parte da cultura da população local.
Banhos demorados nos chuveiros, comuns a todos os brasileiros, são hábitos desconhecidos para muitos habitantes europeus. Mas vale ressaltar que toda essa conscientização só foi possível primeiro com a educação do povo. Nas escolas, as novas gerações aprendem desde cedo a importância da água e do seu uso racional. Por outro lado, o Estado assume a postura apenas punitiva, como sentimos na pele no “Brasil da crise hídrica”. Apoiar e promover investimentos em tecnologias limpas e a adoção de projetos residenciais e empresariais que tenham como prática o consumo inteligente de recursos precisam ser questões mais prioritárias para os entes governamentais.
Compete aos nossos governantes, pensar em priorizar estudos dessa natureza nas grandes cidades, a exemplo de deduções tributárias para condomínios cujos projetos tenham como premissa a incorporação dessas tecnologias como painéis solares, materiais recicláveis, destinação adequada de materiais orgânicos, dentre outros.
Ao invés de ser tão punitivo, seria prudente aos governantes avaliarem melhor a mensagem que podem passar às gerações futuras promovendo mais a educação escolar e a realização de campanhas, como também apoiar de modo inteligente projetos que contemplem soluções agora mais que bem-vindas para esse futuro nebuloso que se projeta no país que tem uma das mais extensas e diversificadas redes fluviais do planeta cuja população está sofrendo com os efeitos da falta d’água.


(*) O texto acima foi publicado originalmente no site Gente & Mercado.

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