Os novos desafios do Brasil na visão do presidente da AEB


Alessandra Nascimento*
Mesmo enfrenando problemas internos como a insegurança jurídica e os entraves do chamado Custo Brasil o país vem se firmando como líder na América do Sul. Para conversar cum pouco mais sobre essas questões a coluna Logístico Portuária entrevistou o presidente da Associação de Comércio Exterior, AEB, José Augusto de Castro.Ás vésperas do Encontro Nacional de Comercio Exterior, Enaex, a ser realizado entre 7 e 8 de agosto no Rio de Janeiro, a 33aedição tem como tema “Propostas para a Redução de Custos no Comércio Exterior”. Castro revela que no ano passado o país ocupou a 22ª posição no ranking de país exportador e teve participação de 1,32 % nas exportações mundiais, depois de ter atingido 1,41% em 2011.
“Desde então o Brasil tem mostrado quedas, devendo cair uma vez mais em 2014 para 1,22%.Em contrapartida, a crescente demanda por produtos importados nos últimos anos fez o Brasil alcançar a 21ª classificação no ranking de país importador e atingir seu índice máximo de 1,36% de participação nas importações mundiais, que deve ser reduzida para 1,23% em 2014”, cita. O presidente da AEB adianta que as quedas de participação das exportações e importações brasileiras em 2014 devem-se à previsão da OMC de crescimento de 4,7% no comércio mundial, aliada às projeções de redução ao redor de 4% no valor das exportações e importações brasileiras.
Ele adianta que o principal problema enfrentado pelo Brasil no comércio exteriorrefere-se aos elevados custos domésticos praticados com impactos nas áreas de produção, a debilidade logística, tributária, finanças, burocracia, encargos trabalhistas, insegurança jurídica. Segundo ele essesproblemas formam o chamado “Custo Brasil” pois afetam diretamente a competitividade das exportações nacionais de produtos manufaturados, limitando, e até mesmo impedindo, a participação mais efetiva das empresas brasileiras nas cadeias produtivas globais, o que para ele acarreta o isolamento comercial do Brasil e de suas empresas no cenário internacional. Castro calcula que as exportações de commodities representam 65% das exportações brasileiras e são também afetadas por estes custos, mas levam vantagens por suas elevadas cotações nos últimos anos o que tem tornado rentável as exportações. Ele acredita que a solução desse problema está na condução de reformas dos sistemas tributário e da legislação trabalhista, pela aceleração das concessões de investimento em infraestrutura, pela desburocratização e diminuição dos 17 órgãos públicos intervenientes no comércio exterior, medidas que proporcionarão redução de custos e maior competitividade para as empresas exportadoras, tornando-as mais agressivas comercialmente. “Sabemos que estas propostas não geram resultados a curto prazo, porém é o preço a ser pago pelo Brasil e suas empresas exportadoras decorrente do atraso em sua implementação. A maior inserção do Brasil nas cadeias produtivas globais não depende de melhorar a qualidade dos produtos, de criar escala de produção, de ampliar o acesso a mercados ou de elevar a agressividade comercial, mas tão somente de reduzir os custos internos atualmente praticados e que tornam caro produzir no Brasil”.
Um outro assunto que tem ganhado corpo nos últimos anos refere-se a importância geopolítica do Brasil e seu posicionamento como líder na América do Sul. Para Castro,a situação decorre devido à extensão territorial do país e o valor econômico do PIB. “Entretanto, ao contrário de outros países, que exercem liderança em suas regiões ou continentes, o Brasil adota uma atuação mais passiva, normalmente voltado para atendimento à demanda.Considerando-se esta realidade, a posição do Brasil caracteriza-se por fazer mais concessões a países e receber menos benefícios, em razão de o Brasil não ter objetivos hegemônicos na região.A existência de mecanismos como o Convênio de Créditos e Pagamentos Recíprocos – CCR, onde impera a igualdade entre seus membros, é uma demonstração da falta de ambições políticas ehegemônicas sobre a América do Sul”, observa.
Entretanto ele adianta questões delicadas em virtude da economia brasileira como as assimetrias frente as demais economias da região. “Trata-se de um ponto negativo, pois impede uma integração em escala econômica maior, que poderia beneficiar todos seus membros. Ainda há a questão da contribuição do Brasil no desenvolvimento dos demais países da América do Sul ser bastante limitada, pois quando envolvem recursos financeiros, ocorrem apenas sob a forma de financiamentos, nunca a fundo perdido”, avalia.

(*) Publicado no site Gente & Mercado em julho de 2014

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