A experiência de Coreia do Sul e Finlândia : reflexões sobre erros e acertos

por Alessandra Nascimento (*)
As experiências de Coreia do Sul e Finlândia são exemplos para os países latino-americanos, em especial o Brasil. A adoção de medidas de médio e longo prazos, sobretudo, utilizando um plano de educação permanente ao longo dos últimos 40 anos para assegurar desenvolvimento tecnológico e resultados. Há que se ter em conta o modo como o Estado orientou a indústria – voltando as atenções para o mercado externo, sem o uso de políticas protecionistas, iniciativa essa implementada nas economias latino-americanas. Ressalta-se também a tolerância zero com a corrupção. Vamos analisar a fundo nessa semana na coluna Logística Portuária o que tornou essas economias em modelo para os países em desenvolvimento.
Em comum, possuem industrialização tardia: a Coreia do Sul se industrializou nos anos 70 com setores químico e siderúrgico, já nos anos 90 investe em microprocessadores. No começo, a orientação era a aprendizagem através da copia de objetos, imitação por duplicação e mais tarde, após investimentos em tecnologia e mão-de-obra, chega ao estágio da copia criativa para finalmente atingir a inovação tecnológica.
Trata-se do que muitos pesquisadores chamam de união de conhecimento tácito – aquele não formalizado – e explícito – no qual aparecem os especialistas. A educação sempre foi o cerne da questão. A transferência tecnológica em que muitos estudantes sul coreanos migravam para os EUA para aprender mais conhecimento sobre as chamadas ciências duras serviu como ponta de lança para a guinada.
As políticas de estado incluíam os chamados chaebolts, grandes grupos industriais compostos por famílias. A percepção totalmente diferente do conceito de crise que nós latino-americanos temos: “Ameaça e Oportunidade” no qual as empresas sul-coreanas intensificam seus esforços de maneira descontinua e oportunizando a superação pela criatividade. A redução de carga tributaria sobre o setor industrial e o financiamento às corporações visando sempre o desenvolvimento foram estratégias de estado. Institutos universitários surgiram com apoio estatal.
Já a Finlândia traz em seu passado o viés da guerra fria. De um país vulnerável às oscilações dos preços de energia, sofreu com o colapso da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, já que era um dos seus maiores sócios comerciais. A abertura econômica e o desenvolvimento olhando o mercado externo foi a única saída para evitar a estagnação. Além de ter investido maciçamente em educação, criou o conceito de capitalismo cooperativo, a partir da associação entre empresas públicas e privadas. As empresas públicas tem forma de gestão similar às empresas privadas buscando assim evitar a burocratização.
A reforma agrária permitiu o assentamento de parte da população no campo, o que contribuiu na disposição de mão-de-obra para o setor industrial. O Banco Central finlandês controlava as taxas de juros e foi instrumento essencial para implantar as políticas governamentais. O dinheiro oriundo das privatizações foi revertido para investimento em educação e tecnologia.
O estado de bem-estar social assegurou nível sócio educacional elevado para toda a população. Empresas como a Nokia e a Sonera – pioneiras em telecomunicações, surgiram com o desenvolvimento da engenharia de software. Todo esse investimento resultou em 2003 e 2004 numa declaração do Fórum Econômico Mundial como o país mais competitivo do mundo.

(*) publicado originalmente no site Gente & Mercado

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